Dia dos povos Indígenas – O que perdemos ao longo dos séculos

Por Fredi Jon

No silêncio das matas queimadas, onde já não cantam os pássaros e a brisa carrega o cheiro de cinzas, uma pergunta insiste em sobreviver entre os escombros do tempo: o que, de fato, perdemos ao longo dos séculos?

Perdemos mais do que terras — perdemos mundos inteiros. Cosmovisões ancestrais soterradas sob o concreto do progresso. Perdemos a sabedoria que não se aprende nos livros, mas na escuta do rio, na dança do fogo, na palavra que cura. Saberes que ensinavam não apenas a viver, mas a coexistir: com a floresta, com o ciclo das estações, com o outro.

Perdemos línguas, mais de mil, exterminadas como se fossem erros a serem corrigidos, varridas como se a diversidade fosse ameaça. Com elas, se calaram deuses, histórias, afetos, modos de dizer o mundo que jamais voltarão. O que desaparece quando uma língua morre não é apenas um vocabulário, mas uma maneira única de sentir o tempo, o corpo, o sagrado.

Perdemos o senso de pertencimento. Onde havia vínculo, implantamos cerca. Onde havia equilíbrio, plantamos lucro. Enquanto os povos originários viam-se como extensão da terra, o Ocidente se viu como seu senhor. A floresta virou recurso. O rio, canal de escoamento. O corpo indígena, obstáculo.

E o preço dessa arrogância? Um planeta exaurido, um clima em fúria, cidades erguidas sobre fantasmas, relações humanas dilaceradas por uma lógica de exclusão e consumo.

No Dia dos Povos Indígenas — nome que, ao menos, tenta corrigir séculos de reducionismo, não cabem apenas homenagens. Cabe vergonha. Cabe escuta. Cabe o reconhecimento de um genocídio que não é passado, mas presente. Que não se limita ao sangue derramado, mas se prolonga na invisibilização cotidiana, na falta de políticas, na negligência institucionalizada.

E, no entanto, ainda há quem resista. Quem cante, quem plante, quem reze. Povos que seguem vivos, apesar de tudo, ensinando que justiça não é um favor, mas um reparo histórico. Que admiração não é romantização, mas reconhecimento da força de quem permaneceu de pé enquanto tudo à sua volta desmoronava.

Recuperar o que perdemos é impossível. Mas reconhecer quem tentamos apagar é o primeiro passo para evitar novas perdas. E isso não é apenas um gesto de memória. É um ato de dignidade. E sobretudo, de futuro.

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